Se você não é assim, provavelmente conhece alguém que apresenta tal
característica: simplesmente parece desajustado com sua época. Gostos,
hábitos, atitudes e valores estão mais próximos dos de seus pais e avós
do que de seus pares e amigos.
"Várias podem ser as explicações para isso e cada caso precisa ser
compreendido individualmente", considera Joana Singer, mestre em
Psicologia Experimental: Análise do Comportamento pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Dentre os fatores que contribuem para isso, Singer, que também é
sócio-diretora do Núcleo Paradigma de Análise do Comportamento, cita a
relação com pessoas mais velhas. É possível, por exemplo, que o
indivíduo tenha aprendido, desde muito cedo, a se entreter com
familiares de idade avançada. Tal fato é comum em unidades com poucas
crianças, nas quais se aprende que o entretenimento é viabilizado pela
presença de adultos e por tudo que eles trazem – seus costumes, seus
gostos musicais, suas atividades favoritas.
Papéis trocados
"Há exemplos nos quais as posições se apresentam invertidas: pais que
parecem mais jovens que seus filhos. Nesta situação, talvez os pais
tenham se constituído como um modelo fraco e, em alguns casos, negativo.
Em uma tentativa de ser muito diferente de seus genitores, esses jovens
procuram agir da forma como eles gostariam que seus pais se
comportassem", analisa a psicóloga.
Há que se considerar, também, que muitas pessoas que parecem idosas têm
dificuldades em relação a habilidades sociais importantes.
"Comportamentos relacionados à 'vida em turma' e à paquera podem ser
muito pesarosos. E, aí, a apropriação de gostos e hábitos dos mais
velhos se apresenta como uma forma de escapar do enfrentamento de
situações que lhes parecem desconfortáveis", diz Joana Singer.
Ela lembra, ainda, de outra situação: indivíduos que foram obrigados a
amadurecer cedo pela necessidade de trabalhar precocemente, ou pela
perda de um ou dos dois pais. "Muitos se afastarão de quem tem idade
próxima porque se sentem distantes, fora do contexto, não se divertem da
mesma forma, por exemplo. Aí, é provável que procurem a companhia de
quem tem mais experiência e bagagem. Claro que alguns podem, apesar das
grandes responsabilidades, cultivar e preservar gostos juvenis, mas não
será regra geral."
Questão de amadurecimento
O termo jovem idoso também vem sendo usado para classificar indivíduos
que amadurecem muito depressa, salienta a psicóloga clínica e
psicanalista Priscila Gasparini Fernandes, especialista em
neuropsicologia. "São pessoas que buscam uma vida mais tranquila, sem a
agitação comum aos mais novos. Preferem um bom livro ou filme ao invés
da balada, pensam mais no futuro com planejamentos detalhados."
Independentemente das razões e da forma como o indivíduo lida com isso,
é importante que cada etapa da vida – infância, adolescência,
juventude, maturidade – seja vivida. Mesmo nos dias de hoje, em que tais
fases estão menos marcadas.
"A infância parece mais curta do que no passado, a adolescência
estendida. De qualquer forma, cada ciclo ensina algo: há o momento de se
desenvolver a criatividade de forma muito intensa (infância), o de
experimentar a individualidade (adolescência), o de prosperar e
construir projetos (vida adulta) e o de lidar com perdas frequentes e
com a preocupação de deixar um legado (velhice). Vivenciar tudo isso é
extrair de cada época uma trajetória única", destaca Joana Singer.
Tudo é relativo
Apesar de tais considerações, as duas terapeutas defendem que não
necessariamente um jovem idoso esteja perdendo algo. Isso porque, muitas
vezes, o que o motiva a agir como alguém mais velho não tem nada a ver
com problemas como insegurança, baixa autoestima e autoconfiança,
melancolia.
"Há pessoas que se adaptam a um estilo de vida diferente e, dessa
forma, encontram sua turma. Não podem ser considerados deslocados. Eles
ganham com a maturidade profissional precoce, o que envolverá outras
conquistas. Claro que não terão a chance de aprender a conviver com
aqueles que envelhecerão com ele, os que têm a sua idade. Mas é uma
questão de opção", diz Singer.
Priscila Gasparini Fernandes concorda. "Se não há dificuldades sérias
por trás do comportamento, não dá para falar em perdas, mas em escolhas e
jeito de ser. Trata-se de uma característica de personalidade de alguém
que se estruturou daquela maneira, porque para ele é benéfico assim. No
futuro, colherá os frutos do que semeou nas fases anteriores da sua
vida."
Fonte: Uol Notícias










